sábado, 10 de abril de 2010

Carta ao Senhor Diretor do Curta Premiado



São Paulo, maio de 2009.


Caro Senhor Jorge,

Exatos vinte anos após a produção de seu filme, é triste notar que algumas coisas não mudaram, enquanto outras pioraram e muito pouco melhorou... Entretanto, existe algo que é eterno.. Já existia naquele tempo e muito antes dele... e o será para sempre.

Tenho que concordar com sua indignação, com sua ironia e acidez na descrição dos valores, relacionamentos e funcionamento do mundo. Porém não posso concordar com sua conclusão, apresentada inversamente na introdução, de que diante dos fatos é óbvio que Deus não existe.

Em todo seu argumento fica muito claro que no fim o que de fato não existe, é liberdade e oposição!

Não somos livres de injustiça, não somos livres de nossos iguais, não somos livres de nós mesmos. Estamos presos aos nossos desejos, subjugando outros desejos, e incapazes de nos opor em qualquer instância a ponto de mudar o que quer que seja.

Nada do que tanto nos indigna no filme pode ser atribuído à presença ou ausência divina. É tudo obra humana. Todas as desgraças tão empiricamente descritas em seu filme são humanas.

O que nos sobra de liberdade é exatamente o que nos trai ao nos fazer sucumbir às nossas vontades que são injustas e destrutivas. Neste sentido não há como acusar a Deus de ser cruel por nos deixar livres, ou simplesmente de não existir apenas porque assistimos diariamente aos efeitos da liberdade humana.

Se o senhor, simples criatura, se indigna tanto diante da crueldade humana, imagine o Criador do universo assistindo a destruição de sua obra? Não há como negar a imensidão do amor expresso pela liberdade oferecida ao homem de agir sobre a criação mesmo que a revelia do criador... A liberdade humana não prova a inexistência de Deus senão seu amor imensurável de suportar assistir a essa destruição para preservar a liberdade.

Não posso lhe afirmar a existência do Eterno, mas com certeza, os fatos não provam a inexistência de Deus. Provam apenas a ineficiência do homem como criatura suprema sobre toda criação.

Que um dia possamos de verdade ser livres e opositores.

Celinda.

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