sexta-feira, 30 de abril de 2010

A vida é bela e a vida missionária...

Antes de qualquer análise, devo dizer que não importa quantas mil vezes eu assista esse filme, em todas ele será igualmente doloroso, e em todas eu irei chorar copiosamente, incontrolavelmente, embaraçosamente... Não dá pra ser diferente... só o seria se a lenda a meu respeito de cumprisse e meu coração fosse de fato de pedra...


Mas vamos às reflexões...

O primeiro impulso romântico ao assistir esse filme é me admirar da determinação de Guido em ser feliz. Ele estava decido a viver feliz e fazer felizes aqueles a quem ele ama. Mesmo no lugar que eu considero mais impossível de isso acontecer, assim ele viveu.

É romântico acompanhar sua missão de eximir o sofrimento do outro e encher o seu meio de esperança e força para lutar. Sua criatividade e poder de articulação são impecáveis, assim como sua capacidade de perdão.

Esse amor e determinação são admiráveis até a morte.

Entretanto, o duro de viver a fantasia é ter que contar com a credulidade dos que se submetem à nossa fantasia. A estratégia de Guido só foi bem sucedida porque seu filho lhe era totalmente crente, e lhe obedecia cegamente, ou com muito pouco questionamento. Caso contrário o final não teria sido tão feliz para mãe e filho.

À medida que poupa outro do sofrimento e lhe traz esperança, Guido centraliza o poder de decisão, a responsabilidade e a dor. É uma carga muito grande para se carregar sozinho. Retarda o amadurecimento do filho.

A frustração é inevitável ao imaginr que todos tem o mesmo amor que ele mesmo, ao esperar apoio de onde não virá, pois apenas ele vive a fantasia, enquanto a vida real é mais cruel não só do que ele pinta, mas é ainda mais cruel do que ele julga conhecer.

Creio que a analogia com o campo missionário está clara, e retomando o “e agora?”, temos a fórmula para transformar o panorama de missões:

D+C+BA+P+FxA–S/T=mundoalcançado

determinação + criatividade + boa estratégia + perdão + fé na soberania divina

x amor – sofrimento / todos = mundo alcançado.

Simples assim... exatamente como no filme... hehehe...

P.S.: ainda existem sempre gaivotas e nazistas por aí...

terça-feira, 20 de abril de 2010

E agora?



Ao assistir ao filme, além das tradicionais risadas ante a tragédia do outro, me peguei em conflito de reflexões acerca do limites entre liderança, prudência, planejamento, organização, ordem e decência e a soberania de Deus, dependência dele, preocupação com o futuro (não andeis ansiosos), autoconfiança e/ou confiança em meus próprios métodos, e por aí vai...


Posso acusar o líder peixe por não prever a segunda etapa da fuga? Posso rejeitar seu plano como falho por ir só até metade da liberdade? Tinha como ele saber o que aconteria na frente antes de chegar lá? Era obrigatório a ele conhecer todas as possibilidades e variabilidades de seu empreendimento? No final quem escapou “liso” não foi quem ficou de fora do plano? essas e mais uma dezena de perguntas me vêem à mente enquanto rio da cara de “e agora?” dos pobres peixes.

Se isso aqui fosse um MBA, a resposta para todas elas seria um sonoro sim!!! Você tem que calcular riscos, lucro, gastos, e prever resultados, pontos fortes, pontos fracos, concorrência, definir metas e propor avaliações e controle. Você tem que saer onde está pisando!! Mas isso não se aplica ao campo da fé.

Entretanto em nome da fé, muitas vezes a obra de Deus foi feita de forma relaxada, imprudente e equivocada. Em nome da fé, muitas vezes nos acomodamos com nossos aquários e a ração diária que nos chega. Em nome da fé, muitas vezes negamos a imensidão do mar que está bem ao nosso lado. Em nome da fé, perdemos de experimentar o sobrentatural de Deus acontecer bem diante de nossos olhos quando nossas forças humanas se esgotam.

Enfim, tudo o que me vem finalmente à mente é a “agri-doce” coexistência entre excelência no planejamento estratégico humano e imprevisível e constante soberania divina. Saber desfrutar de ambas é o meu desafio.

sábado, 10 de abril de 2010

Carta ao Senhor Diretor do Curta Premiado



São Paulo, maio de 2009.


Caro Senhor Jorge,

Exatos vinte anos após a produção de seu filme, é triste notar que algumas coisas não mudaram, enquanto outras pioraram e muito pouco melhorou... Entretanto, existe algo que é eterno.. Já existia naquele tempo e muito antes dele... e o será para sempre.

Tenho que concordar com sua indignação, com sua ironia e acidez na descrição dos valores, relacionamentos e funcionamento do mundo. Porém não posso concordar com sua conclusão, apresentada inversamente na introdução, de que diante dos fatos é óbvio que Deus não existe.

Em todo seu argumento fica muito claro que no fim o que de fato não existe, é liberdade e oposição!

Não somos livres de injustiça, não somos livres de nossos iguais, não somos livres de nós mesmos. Estamos presos aos nossos desejos, subjugando outros desejos, e incapazes de nos opor em qualquer instância a ponto de mudar o que quer que seja.

Nada do que tanto nos indigna no filme pode ser atribuído à presença ou ausência divina. É tudo obra humana. Todas as desgraças tão empiricamente descritas em seu filme são humanas.

O que nos sobra de liberdade é exatamente o que nos trai ao nos fazer sucumbir às nossas vontades que são injustas e destrutivas. Neste sentido não há como acusar a Deus de ser cruel por nos deixar livres, ou simplesmente de não existir apenas porque assistimos diariamente aos efeitos da liberdade humana.

Se o senhor, simples criatura, se indigna tanto diante da crueldade humana, imagine o Criador do universo assistindo a destruição de sua obra? Não há como negar a imensidão do amor expresso pela liberdade oferecida ao homem de agir sobre a criação mesmo que a revelia do criador... A liberdade humana não prova a inexistência de Deus senão seu amor imensurável de suportar assistir a essa destruição para preservar a liberdade.

Não posso lhe afirmar a existência do Eterno, mas com certeza, os fatos não provam a inexistência de Deus. Provam apenas a ineficiência do homem como criatura suprema sobre toda criação.

Que um dia possamos de verdade ser livres e opositores.

Celinda.