sábado, 12 de setembro de 2009

Coisas que aprendi no Peru 3

Vamos lá...

Outra coisa que aprendi logo na chegada, é que no Peru, greve geral é um movimento de classe, e não de categorias.. aqui nós fazemos movimentos isolados de categorias menores.. “greve geral” dos metalúrgicos, “greve geral” dos caminhoneiros, “greve geral” dos professores, “greve geral” dos profissionais de saúde.. etc.


Lá a greve geral é dos trabalhadores. “El paro” (a greve) é um movimento de toda classe trabalhadora, e não das categorias separadas. Então se há greve geral, é geral de verdade! Se você é trabalhador você deve parar. Não importa se você é empregado, empregador ou autônomo.


Se você não parar haverá retaliações, muitas vezes bárbaras, como apedrejamento dos ônibus na estrada (como o que sofremos na viagem de Lima para Ayacucho), ou destruição do seu estabelecimento comercial (tínhamos que entrar escondidos nas lojas e muitas vezes ficamos trancados dentro delas esperando o movimento passar para sair) e por aí vai... Todos devem parar.


Inicialmente, pode parecer curioso imaginar, por exemplo, o dono de uma papelaria pequena fechando suas portas e saindo às ruas para protestar e reivindicar. Só não imagino contra qual patrão ele estaria gritando: “exigo de mim mesmo ajuste salarial imediato ou não volto a trabalhar!!”.. hehehe... :P

Mas se pararmos para pensar um pouquinho, o exótico se torna quase óbvio (olha ele aí de novo mudando de cara.. hehehe). Se pensarmos a indústria, o mercado e a força trabalhadora como a rede totalmente entrelaçada que realmente é, não se torna tão absurdo assumir que o movimento trabalhista venha direta ou indiretamente beneficiar a todos em diferentes níveis.


Melhores salários implicam em maior consumo, que implica em menor carga para o estado, que implica em maior entrada aos empregadores e autônomos, e por aí vai o ciclo sem fim.
Esse sentimento de grupo, de classe, de nação, de todo... sim... isso me impressionou muito!!! Não vemos muito disso por aqui... Para nós o óbvio é que o interesse individual está acima do grupo, mas pelo que vi lá, o bem do grupo está acima do indivíduo.

Ali a idéia de “Corpo” me pareceu mais real e factível, do que aqui, onde o mais próximo de corpo que chegamos parece ser a de peças parafusadas formando um ser impessoal que pode ser desconectado e substituído. Em nada se compara ao “Corpo” contínuo e inseparável, que só perde um membro em última necessidade, num procedimento invasivo, e a duras penas!

Viu? O óbvio tem tantas caras... tantas formas... adoooro descobrir o óbvio por trás das estranhezas, exotismos, pseudo-barbáries, enfim, culturas.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Coisas que aprendi no Peru 2


Outra coisa que aprendi no Peru é que o ‘pertinho’ de peruano é muuuuuuuuuuuito pior eu de mineiro!!! E horário para eles é algo totalmente irrelevante, desnecessário e na verdade inexistente. Afinal o que é o tempo senão uma mera convenção?
Para nós brasileiros, praticamente litorâneos, qualquer distância percorrida, mesmo que na horizontal, a 3000m de altitude é infinitamente longe, pesado, rarefeito e já falei longe?.. hehehe..
Pois é... chegamos em Ayacucho, a 3000m de altitude, e a cidade estava em greve (aliás outro grande aprendizado que vou contar depois). Bom, não havia transporte da parada do ônibus para a casa onde ficaríamos...



Aliás, lugar lindo! O mais alto da cidade, com uma vista privilegiada de todo o vale... porém chegar lá a pé! afff... Enquanto andávamos a passos de lesma (não adianta tentar andar rápido, é como se suas pernas grudassem no chão! Como se tivesse imãs te puxando pra baixo, e a cada passo temos que descolar o pé do chão), mas sim, enquanto andávamos cambaleantes, sem nenhuma mala no ombro e com alguns de nós desmaiando, os peruanos da igreja que vieram nos receber, seguiam serelepes, sorridentes, ágeis e carregando toda a bagagem!!!
Me senti a própria “smurfete” (uns 50 kg mais gorda, mais velha e morena.. hehehe), perguntando a cada dois passos: falta muito? Ao que eles respondiam: é logo ali...
Argh!!!!!!!!! Nunca acreditem no “logo ali” de um peruano!!! Hehehe... :)





Outra coisa, esqueça esse negócio de horário... totalmente irrelevante. Se você marcar às 8 h eles vão chegar às 10 h, se marcar às 10h vão chegar às 12h. Então desista. Simplesmente se encontrem e aproveitem o momento.






O bom disso é que eles nunca têm pressa de se livrar de você, não ficam olhando no relógio enquanto você fala, e sempre esperam que o grupo aumente com a chegada de mais um. As pessoas são importantes e estar com elas é o que vale!




Gostei muito disso!! :)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009


Demorou mas aqui está... imagens do Peru... :)
Eita tempinho bom tivemos lá... entre diferenças e semelhanças o aprendizado foi riquíssimo... ao poucos vou contando pra vcs o que aprendi por lá...
Por hora vale dizer que já sinto saudades do lugar, da equipe q foi, da equipe q nos recebeu por lá, e dos novos amigos q ganhamos...
Vocês deviam mesmo ir um dia desses...
:)

domingo, 6 de setembro de 2009

Coisas que aprendi no Peru 1


Uma das coisas que descobri mais incríveis que pode acontecer com alguém é ter a chance de observar e experimentar novas culturas.

É fantástico poder perceber que tudo o que considerávamos óbvio, lógico, automático e perfeito, pode de repente se tornar infinitamente ridículo, complicado, absurdo e aprendido.

Desde o primeiro momento em que chegamos ao Peru nos deparamos com as diferenças e confrontamos nossos absolutos. E a única certeza que nos sobra é que o óbvio não é tão óbvio assim.

Quero deixar claro que estou descrevendo minhas reflexões e impressões pessoais, sem qualquer pretensão de descrever uma cultura, fazer assertivas antropológicas e sociais, ou assumir como padrão cultural os comportamentos aqui observados e descritos. É apenas um diário de viagem.. totalmente subjetivo.. :)

A primeira coisa que aprendi é que Coca-cola não é preferência universal, embora sua presença o seja.. hehehe... Os peruanos têm sua própria “cola” (que aliás foi comprada pela coca-cola) e se orgulham muito dela.


E para eles é tão óbvio que todos prefiram sua Inca-Kola, que quando pedimos “gasosa” (refrigerante) nos restaurantes, eles nem perguntam qual e já trazem a nacional, aberta e quente!! (outra preferência nacional...)
A Inca-Kola é uma bebida gasosa, que tem sabor de chiclete Buzzy e cor de detergente de pia Ypê amarelo. Visualmente, a sensação que se tem que minhas vísceras vão se dissolver como a gordura das panelas que lavo com Ypê... Ao paladar, aquele negócio quente e doce com gosto de conservante só me fazia pensar “tá bom, já bebi tudo, que horas vou ganhar o anel que vem de brinde com o chiclete Buzzy?”.. heheheh...


Houve no grupo quem gostasse e só bebesse isso até o último dia... há suspeitas de que ele tem propriedades entorpecentes, porque só assim pra pedir voluntariamente por esse líquido inusitado. Além do que, quem bebia desenvolvia crises de riso.. brincadeirinha.

Na verdade, se tomar beeeeeem gelado, até que é gostoso. :)