Outra coisa que aprendi logo na chegada, é que no Peru, greve geral é um movimento de classe, e não de categorias.. aqui nós fazemos movimentos isolados de categorias menores.. “greve geral” dos metalúrgicos, “greve geral” dos caminhoneiros, “greve geral” dos professores, “greve geral” dos profissionais de saúde.. etc.
Lá a greve geral é dos trabalhadores. “El paro” (a greve) é um movimento de toda classe trabalhadora, e não das categorias separadas. Então se há greve geral, é geral de verdade! Se você é trabalhador você deve parar. Não importa se você é empregado, empregador ou autônomo.
Se você não parar haverá retaliações, muitas vezes bárbaras, como apedrejamento dos ônibus na estrada (como o que sofremos na viagem de Lima para Ayacucho), ou destruição do seu estabelecimento comercial (tínhamos que entrar escondidos nas lojas e muitas vezes ficamos trancados dentro delas esperando o movimento passar para sair) e por aí vai... Todos devem parar.
Inicialmente, pode parecer curioso imaginar, por exemplo, o dono de uma papelaria pequena fechando suas portas e saindo às ruas para protestar e reivindicar. Só não imagino contra qual patrão ele estaria gritando: “exigo de mim mesmo ajuste salarial imediato ou não volto a trabalhar!!”.. hehehe... :P
Mas se pararmos para pensar um pouquinho, o exótico se torna quase óbvio (olha ele aí de novo mudando de cara.. hehehe). Se pensarmos a indústria, o mercado e a força trabalhadora como a rede totalmente entrelaçada que realmente é, não se torna tão absurdo assumir que o movimento trabalhista venha direta ou indiretamente beneficiar a todos em diferentes níveis.
Melhores salários implicam em maior consumo, que implica em menor carga para o estado, que implica em maior entrada aos empregadores e autônomos, e por aí vai o ciclo sem fim.
Esse sentimento de grupo, de classe, de nação, de todo... sim... isso me impressionou muito!!! Não vemos muito disso por aqui... Para nós o óbvio é que o interesse individual está acima do grupo, mas pelo que vi lá, o bem do grupo está acima do indivíduo.
Ali a idéia de “Corpo” me pareceu mais real e factível, do que aqui, onde o mais próximo de corpo que chegamos parece ser a de peças parafusadas formando um ser impessoal que pode ser desconectado e substituído. Em nada se compara ao “Corpo” contínuo e inseparável, que só perde um membro em última necessidade, num procedimento invasivo, e a duras penas!
Viu? O óbvio tem tantas caras... tantas formas... adoooro descobrir o óbvio por trás das estranhezas, exotismos, pseudo-barbáries, enfim, culturas.